quarta-feira, março 16, 2016

O Lobo - Parte V

Era por fim a chegada ao cume. E por baixo de si, estendia-se o vale. Tão verdejante, tão denso, tão rico! Erguiam-se as árvores de copas tão altas, As suas raízes rompiam a terra E dançavam na vegetação. Havia o lago também, Límpido, como nos seus sonhos recordava. E a sua toca... Teria sido ali que nascera, dissera-lhe alguém um dia. Era o local ideal. O Lobo fechara os olhos instantes ara encher bem o peito de ar. No reflexo viu o seu focinho, Tão velho, tão encardido, Os seus dentes cobertos de tártaro e gastos. Que resta de mim? - Pensou o Lobo Entrou no lago e limpou-se. Deitou-se ao Sol para secar. E, por fim. Foi para a toca onde adormeceu. Adormeceu durante meses! 16/03/2016

O Lobo - Parte IV

Naquele sorriso a Loba relembrou-lhe, O quão grande era o seu coração! "Olha para mim" - dissera-lhe o Lobo Para estas mandíbulas ainda tingidas de sangue... Não sou mais que assassino! Não sou mais que um ser que vagueia, À espera da sua hora. Nem o coração ficou. Esse... Estilhaçou-se em tantos pedaços, Que nem os sei contar. E o tempo... nem sei quanto passou, Demasiado!... Olha para o meu pêlo, Vê o quão branco está agora. Vê o quanto me gastei nestes anos... Não sou quem outrora fui. Tornei-me feroz e solitário, De peito tão vazio, Que nem o vento gélido o faz sentir. E estas patas... Enlameadas, gastas. Não têm conta os milhares e Milhares de quilómetros percorridos. E estes olhos... Não brilham sonhadores, (como um dia fizeram) São baços, mortos e cegos. Já não vêem, só reflectem. Não sou quem antes fui. Não sou quem conheceste, Não sou quem no passado amaste. Esse partiu há muitos, muitos anos! E eu lamento. Lamento mesmo muito. 23/01/2016

O Lobo - Parte III

Após um ano a caminhar, Praticamente sem parar, o Lobo abrandou. Olhou para trás e verificou, lá do alto do cume O último troço caminhado. Hei de parar - pensou para si mesmo - mas ainda não é hora. E continuou, subindo, subindo monte a cima, Descendo vales. As mortes eram quase instantâneas. Apenas carne. Só isso. Sem a vertigem da caça. Apenas carne que vive, que se mata e que se deixa o restante a apodrecer. Andar, caminhar, esse é o objectivo. Tudo o mais apenas funções de sobrevivência. Num certo dia de caminhada encontrou A jovem Loba que teria sido sua companheira. (numa outra vida pensou) Tinha-se tornado numa bela e madura Loba. Olhando para si mesmo sentiu-se um farrapo. As patas feridas de tantas milhas feitas, olhos vazios, Mandíbulas ainda ferozmente pintadas da última morte que cometera. Sentiu-se envergonhado com o seu aspecto e com o seu coração tão vazio... Mas ela sorrira-lhe! 10/12/2015

O Lobo - Parte II

O alimentar, outrora feito com uma fome de alcateias inteiras! Hoje é apenas uma tarefa. Fixa-se a caça e cerra-se-lhes as presas até a peça se deixar de mexer. Arrancam-se pedaços de carne, que se engolem quase inteiros. Foi-se o gosto pelo caçar, Pelo gosto do sangue e pelo saciar da fome. Mata-se silenciosamente, E come-se somente o bastante pra aguentar os quilómetros nas patas. Larga-se o resto da carcaça para outros animais. E segue caminho. Caminho esse muitas vezes sem rota. Caminho esse que se tornou também desapaixonado. Caminhar, procurar o local dos sonhos. Esse tornou-se o objectivo principal. Ficaram esquecidas todas as outras tarefas. Tudo aquilo que fazia o caminho ser agradável. Mas o Lobo continua, Esquecido que a caminhada em si É também parte da tarefa de seguir o sonho. Mas ele continua, caminhando, caminhando incansável. 25/08/2015

O Lobo - Parte I

Este nunca foi de alcateias. Era sempre um solitário que fugia dos seus. Gostava dos seus passeios, das suas caçadas. Explorar o mundo e evitar guerras. Brincava em charcos e com as folhas, Em noites de lua brilhante uivava! Fosse em tom de lamento ou grito eufórico. Aconchegava-se nas tocas descobertas, em sonos profundos. De vez a vez lá aparecia outro lobo que queria lutar por território. Ele nunca quis. Não desejava possuir terras, muito menos lutas. Embora algumas fossem inevitáveis. Ganhou e perdeu combates. Feriu e foi ferido, com e sem gravidade. Mas no final, lambia sempre as suas feridas, Descansava do combate E voltava a caminhar. A sua eterna busca, O sítio do local dos seus sonhos. Maravilhosos, calmos e pacíficos. Onde o encontrar? Caminhava há tantos anos, Certos locais quase se assemelhavam. Mas a sensação não era igual. (Sempre longe, pensava) 24/08/2015

Foi só

Foi só um resto de Inverno. E uma Primavera, e um Verão, e um Outono, E mais um Inverno, e a Primavera chega novamente... “O tempo cura tudo” a eterna frase. Os meus pensamentos curam, Não o tempo. O tempo nunca sarou ferida nenhuma. (e eu continuo com tantas, tantas saudades tuas) O tempo só relembra. Os lugares, os olhares, os sorrisos... Os abraços, Principalmente os abraços. Eram tão fortes! E eu sinto-me tão no limite das minhas forças. Quando me deito, assim que fecho os olhos, É o teu abraço que ainda sinto. E essa ilusão tem-me feito ganhar força, Dia após dia

quarta-feira, novembro 04, 2015

Corrói-me

Corróis-me o (meu) mundo, onde o doce véu do flamejar ainda vertigina o meu coração.
Juro para mim que já passou.
Mas o lamento é um grito sem voz
Que ecoa sem fim, dentro de mim.

Neste mundo de tumultos, de pessoas cinzentas.
É tão fácil perder a alma em tais mãos.

Quero libertar-me de tudo isso,
Mas ele (coração) é tão teimoso…
Remói as recordações,
Aviva aqueles sentimentos.

E quando no silencio me encontro,
É a tua música que escuto (sempre).

Entre os sonos cansados,
Os embalares nas melodias.
O pensamento pede para que te vás dele.
Mas a tua gravação em mim ficou tão marcada…

Em dias de vento sopro-as para longe.
Em dias de chuva, choro-as nos passeios.


segunda-feira, setembro 14, 2015

Enquanto a música tocava, eu ia-me dando, sem jamais me aperceber do quanto isso me ia marcar. Enquanto brindávamos à nossa felicidade, tu fazias o teu ar mais sério a tentar disfarçar o sorriso que queria surgir. E eu ria, como sempre, nas minhas gargalhadas tolas.

O tempo (mais uma vez), esse tempo. Deu as mãos com o contratempo. E deu confusão.

Ainda dou por mim, enquanto leio livros, a passar os olhos por cima destes e a procurar-te... Por vezes distraio-me e oiço-te praticar as tuas peças, mas a visão trás me à realidade, e ali não estás.

Foram-se essas melodias, foram-se até os cigarros, que pelos quais refilavas carinhosamente: "não precisas disso!", mas que nunca te fizeram retrair nos beijos. Foram-se esses também...

Vai, vai para o teu lugar, que eu vou para o meu. Porque o tempo, não era o nosso.

domingo, junho 14, 2015

A Relíquia - 25/05/15

Aqueles momentos onde passado o rebuliço diário,
Finalmente escapulia-me para a tua varanda para fumar um cigarro.
Havia vento e eu não sentia frio,
a vista era bonita (naquela varanda alta),

Os aviões passavam e haviam luzes da cidade
Em toda à volta do campo dos meus olhos.
Mas nunca quis saber da vista,
nem do vento, nem dos aviões.

Naquele momento, apenas fumava pausadamente um cigarro
E bebericava a minha cerveja.
E então tu chegavas...

Abrançando-me carinhosamente,
e sorridente pedias uma passa do meu cigarro.
Como poderia o dia ser duro ou feliz,
Ali era totalmente apagado e só te sentia a ti.


Esse teu sorriso de criança
De quem experimenta algo fantástico pela primeira vez.
A tua brincadeira querida.

E no fim da noite... quando já abraçada ao teu corpo,
Ganhava coragem para regressar a casa.
Ficava quietinha, enquanto esses teus longos dedos brincavam na minha pele.
(Como que se nas teclas do teu piano tocasses.)

Coragem sim! Nunca era fácil partir.
Não é fácil abandonar um sonho bom.
(Aquela sensação em que o despertador toca e tu estás no meio de um sonho tão bonito,que não abres os olhos por momentos, só para ficar uns segundos mais.)

Assim era contigo, de todas as vezes.
A minha mais perfeita relíquia.
O meu sonho mais meigo.

sexta-feira, maio 08, 2015

I'll Never Quit

Que más fases apareçam. Autênticos desastres aconteçam. Luta diária para me manter firme e não deixar descambar a força interna.
Existem momentos em que quando pensamos que mais más noticias não são possíveis, vemos que estamos errados e é sim possível acontecer mais uma e outra desgraça.
Mas tal como isso acontece, nunca esquecer que também existem as coisas boas que nós temos. Que conquistámos, e por muitas vezes pensamos que estamos a ser mesmo abençoados e que mais e mais coisas boas acontecem. É preciso aprender a receber as coisas boas. O Ser Humano está demasiado habituado às coisas más e muito pouco valoriza as boas.

Não posso e não o vou fazer. Sim, esta é uma fase péssima. Desde o início  do ano perdi tantas batalhas que já perdi a conta. Mas antes disso, fui tão, mas tão abençoada por tanto de bom. Nem todos os dias são fáceis, nem todos os dias mantenho o pensamento positivo. Mas vou sim agarrar-me a tudo de bom que consegui, que me apareceu e que conquistei.  O caminho para o sucesso não é meramente a meta, mas sim o plano para lá chegar. E eu tenho-o! Por muitos obstáculos e muitas quedas que dê. Eu sei o que quero e mais que tudo sei o que não quero. E hei de conseguir alcançar os meus objectivos e cortar a meta.

sexta-feira, março 27, 2015

Areia e Mar 28/08/2012

Longo passo soturno ao lado do horizonte que se torna laranja, a água fresca que amansa o sangue que ferve e devolve aos olhos a sensação se infinito e serenidade.

Mergulho repetidamente, o corpo apazigua as ideias e a razão que tenta tanto, mas tanto manter-se na sua linha. Deixar de sentir seria, por momentos, uma saborosa vitória em mim mesma.

Mas o coração rompe pelas ondas agora suaves e pede que elas explodam, que enrolem os corpos, que os unam suavemente.

Oh mas que bem sabe sair da tormenta e cair na toalha de olhos fechados e não pensar, apenas restaurar a respiração, sacudida pelo mar.

 Que bom é sentir-me novamente estúpida e engolir as palavras no pensamento, pois na tua companhia é assim que me sinto, uma tola que não sabe falar e tão estupidamente egoísta com os meus sentimentos reversos. Entornar palavras para quê, quando somente a tua presença me faz tão bem? É quase como sentir-me parasita em ti, juntar-me e deixar-me ficar. Presença mais sem sentido e mentirosa. Sim mentirosa, pois jurei não dizer...

E que tenho eu de diferente do mar de costa, que humedece a areia por onde passa? Que em dias de tempestade fustiga a areia tranquila no seu leito e pede que ela vá com ele. Que morre de ciúmes do sol porque a aquece e que faz com que as pessoas se deitem nela para sentirem o calor obtido pelo sol.

Só que ao fim de contas as pessoas fartam-se pois a areia acaba por incomodar e por queimar os pés descalços. O mar de costa adora lançar ondas para que os pequenos grãos de areia se soltem e saltitem no meio da sua espuma. E o som? O som que ambos em harmonia fazem, aquele rugido
E por fim à noite, as conversas que têm, mesmo as silenciosas, ninguém as escuta.


No fim de contas foi a maré que me trouxe
do mar alto à costa.
Espero, até ao dia em que o sol faça
evaporar a última gota que me compõe.