Acho que me perdi algures por aí... Ou parte de mim apenas.
O sentir está tão diferente agora! Tentada pela fealdade mundana em alguns instantes, assolada por uma veia tenebrosa e sem escrúpulos por vezes, quando haviam brigas feias eu seria a primeira a saltar e tentar acalmar a situação, já me vi sentada a observar a desejar que se destruíssem de vez, ver a destruição humana tornou-se hobbie.
A carne que se trinca, ingere-se todo o sabor e quando estiver já sem cor cospe-se. É tão fácil quanto isso! Não alimenta, não sacia, mas dá gosto à boca, pelo menos naqueles instantes. Por vezes também me dou a trincar, peço que me rasguem a carne, que me trinquem e arranquem pedaços de carne mas aviso sempre que não tem qualquer sabor, que o meu sangue agora não passa de uma pasta quase negra.
No outro dia estava nos treinos, faltavam ainda alguns minutos para a aula começar e estava sozinha, aproveitei para meditar, mas nesse dia a minha cabeça estava como que lixeira, podre e fedorenta! Não conseguia de maneira nenhuma esvazia-la, quanto mais recicla-la. Decidi ir para o saco... E bati com toda a força que consegui, só parei quando esgotada me deixei cair no tapete e reparei que tinha os nós dos dedos completamente negros. Não havia dor! Apenas as marcas dela.
Há dias disseram-me: "Tens os olhos mais doces e mais profundos...! Mas são tão imensos que não tem fim! E onde andas tu no meio deste imenso todo?"
"Bem e Mal tem a mesma face, tudo depende da época em que cruzam o caminho de cada ser humano." - Paulo Coelho, in "Demónio e a Srta. Prym"