Que dizias tu ali naquele momento? Eu avisei-te que haviam certas coisas que não se deveriam dizer a menos que as palavras explodissem.
Hoje vejo que tantas coisas foram desperdiçadas, jogadas no lixo. Mentiras algumas, que apenas foram ditas porque precisavas de alguém a teu lado naquele momento. E como fui eu... Poderia ter sido outra pessoa qualquer, as palavras e os gestos seriam os mesmos.
As horas que ali passei, o tempo... O quente e o frio que nunca eram constantes. Nunca consegui saber se iria chover, fazer frio, calor imenso. No carro trazia sempre algo de apoio para se algo fugisse ao que pensava que seria naquele dia.
Eu cansei-me de fumar cigarros nas portas do hospital, esperando a tua recuperação... E não há nada mais triste que ver alguém a fumar a porta de um hospital!
Nos últimos meses dessa vida, todos os dias, todos passava eu a porta daquele hospital, fumava o meu cigarro... Nem sempre entrava para te ver. Mas todos os dias falava contigo, alguns tendo apenas duas paredes de distância. As enfermeiras foram-me conhecendo e algumas faziam-me companhia, dizendo: "já vi que hoje não é dia..."
E ao ver-te morrer, morria também algo em mim. Ainda tinhas força para sorrir de vez a vez e lançavas as tuas piadas, dizendo que já não me fazias sorrir. Coisa que me desculpava com: "estou muito cansada mesmo, não penses assim". Agora não há nada que possa fazer. E sei que deveria ter ido ver-te todos os dias! Que deveria ter sorrido para ti todos os dias! Mas estava cansada de todas as máscaras. Da vida de actriz em vida real que tinha de desempenhar.
Mas te garanto, onde quer que estejas, há algo que nunca morrerá.
"The first 24 hours after surgery are critical. Every breathe you take(...) is celebrated!
(...) What happens when the imidiatly danger has past? Surgery is when you get saved. But post-op, after surgery, is when you heal... But, what if you don't?"
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