sexta-feira, setembro 24, 2010

Texto roubado

"Com um último impulso, toco com a mão no fundo subaquático. Enquanto sinto o ar fugir, penso se será sempre necessário irmos ao fundo, mesmo ao fundo dos nossos terrores para conseguirmos emergir mais limpos, sãos. Naquele instante que separa a Vida da Morte, o instante que muda tudo, a bifurcação nos nossos sonhos, será aí que reside a solução? Teremos de estar próximos da sufocação para conseguirmos ver? Estaremos mais lúcidos nessa altura? Ou esse instante, em que quase vemos, quase sentimos o outro caminho, serve para despoletar os nossos sentidos mais profundos, o instinto implacável que nos grita aos ouvidos: Sobe! Sobe! SOBE!

Quem nunca sentiu esse pânico, não sabe que intensidade pode atingir o medo de tomarmos as decisões erradas, que nos levam para o fundo do poço. O medo incrível que surge quando percebemos que muitas (todas?) vezes estas decisões são instantâneas e irreversíveis.

Estranhamente, pelo menos para mim, parece que não há meio caminho. Este processo de limpeza, de "emergência", tem de ser feito a partir do fundo senão não resulta, fica incompleto, como se nos tivessemos esquecido de varrer um canto escuro de uma casa impecavelmente limpa."

"Quem nunca sentiu esse pânico, não sabe que intensidade pode atingir o medo de tomarmos as decisões erradas(...)"

"Ai mulher de tomates pah" dizem-me por vezes.
Não consigo deixar de sorrir e pensar o quão ignorantes são. O medo! O medo é o catalisador da maioria das minhas acções.
Pegando um pouco no texto em cima, por vezes fico exausta disto tudo e então jogo-me em apneia e começo a descer, lentamente, somente com o ar que tenho nos pulmões.

À medida que vou descendo, vou ficando em paz, a ideia da falta de sol e som atrai-me bastante. Leva-me para um outro mundo. O problema é o tempo, é o querer ficar naquela calma, descer cada vez mais.
No entanto, como em todos os outros espaços, há dificuldades... Existe a pressão à medida que desço, que me pontapeia o peito e os ouvidos e lentamente vejo-me obrigada a largar um pouco de ar, e mais e mais.

Quando finalmente chego ao fundo e sinto-me feliz por sentir o chão nas mãos, o ar restante sai. São já muitas as dores no peito e a pressão nos ouvidos é cada vez mais incomoda.
E é então que dou o impulso com as pernas para subir... Mas infelizmente esqueci-me que sem ar nos pulmões a subida é bem pior, as dores no peito e a pressão nos ouvidos desconcentram-me e começo a panicar. Tento por tudo bater os pés para subir, mas já não me resta grande energia, olho para cima e ainda tenho uma grande camada de água a sobrepor-me.
Não desistas! - penso. Força, só mais um esforço! - convenço-me.
Lá em cima há ar, tanto ar. Aquilo que mais anseias neste momento.

Nesse momento bato pernas e dou aos braços com toda a força que me resta. A claridade aproxima-se, a densidade da água é menor. A primeira inspiração é horrível! Tão dolorosa quanto estar sem ar. A pouco e pouco aprendo de novo como respirar, lentamente o movimento da caixa torácica abranda. Sinto-me tonta, dormente. E sem noção do espaço físico que me rodeia.

Equilibro-me... E vou direita para a toalha, onde adormeço.

3 comentários:

Chuva de Verão disse...

:)

GotchyaYinYang disse...

É aflitivo...

Taiyo85 disse...

Exactamente...
Eu também me esqueço por vezes de guardar um pouco de ar para a subida...

Um abraço muito muito apertado =)