segunda-feira, março 23, 2009

Pensamento vomitado

Num tempo constante de frio e chuva ela vivia. Rodeada de sombras e sorrisos tristes.
Cansada das constantes paragens cardíacas, do acordar lavada em lágrimas todas as noites. Cansada da sua doente auto-mutilação que só aumentava a dor. Ela subiu para o parapeiro sem medo de escorregar, nele se dançou e um adeus ao mundo disse.

Sem roupa que lhe cobrisse o corpo, sem nada a não ser a sua identidade ela mergulhou.

Pergunto-me se querias ver se tanta chuva teria originado um rio profundo no alcatrão onde aterraste. Onde o negrume que vias imaginavas ser o fundo do rio. Limpo, puro, fresco.

Gostava de ter percebido a tua verdade. Eu ao colo te peguei e nunca consegui ver onde terminava o teu olhar. Foste sempre menina sofrida, menina de sorriso largo e contente, mas que contente nunca foi. Meras alegrias de uma vida miserável e vergonhosa, a teus olhos somente.

Quem te tirou o pensamente e te fez saltar? Foi a danada da consciência? Foi a loucura dessa negra mancha que tingiu o teu coração? Foi simplesmente um desistir porque não querias mais respirar? Dizias que a humidade criava bolor no teu cerebro e rias.
Sempre te vi crescer com essa máscara de cara alegre. Mas tinhas os olhos tão vazios...

Espero que o teu perdão tenha chegado. Esse perdão que achavas que não merecias pelo simples facto de teres nascido.