Entro no silêncio escondido da solidão e oiço um murmúrio. Algo sobrenatural, algo transcendente, que me arrepia e faz tremer."Quem está aí?! - Pergunto eu. Oiço uma voz muito ao fundo, uma voz doce e afável, mas não vejo ninguem! Procuro incessantemente até me cansar, até que, sem a menor dúvida digo: "Estou sozinha... Mas que voz era aquela?!" Sento-me e tento-me concentrar, até que oiço novamente aquela estranha e doce voz a dizer: "Não estás sozinha" - Eu assustada pergunto: "Quem és?!!!" Até que depois de um tortuoso silêncio a voz responde: "Sou eu... O teu coração! Não estás sozinha, estás cheia de paixão, cheia de sonhos. Mas fechas-te com medo do que não podes controlar. Gostas de ter sempre as mãos bem firmes no volante! Desesperas quando sentes o gotejar do descontrolo, da paixão, do desejo a queimar-te a alma... Mas eu sinto a tua necessidade de explodir. Muitas vezes explodes em sentido contrário e sentes-te frustrada por não atingires o que queres. Sentes-te presa por Credos e Estereótipos que toda a vida tentaste ignorar. Agora eles presentes, a tua cabeça deu nó! Não corras trás daquilo que sabes que não aguentas!..."
Eu digo: "Ás vezes, é melhor sonhar que viver na negação. Sou dupla, vivendo com os pés assentes na terra e fazendo o que me compete. Procurando um equilibrio, o máximo de paz possível e viver em comunhão com os demais. Mas por outro lado, é à noite que me solto, sou autêntica (ou quase), convivo com quem me quer bem. Mas mesmo assim... Havia tanto para dizer, tanto para ser feito... MAs não posso ir contra a maré! Ela diz-me para ficar no mesmo sitio, mas eu desejo poder viajar nela, até a maré me quizer levar, até eu continuar fascinada e a deseja-la. Mas o medo faz-me parar. Pois na realidade a maré é perigosa, não é branda. O mais provável é levar-me para mar alto onde as minhas forças já não são suficientes para voltar, e aí acabar por me afogar. Por isso prefiro acompanhar a maré ao seu lado. Uns dias sinto-a perto, outros longe. Mas onde sempre sinto o seu cheiro e a sua aragem refresca. Onde eu possa molhar os meus lábios sedentos de sede. E assim me deixo caminhar."
Já é dia! Acordo deste sonho estranho e digo: "Bom dia! Bem-vinda a mais um dia!" Onde sou uma pessoa comum, como tantas outras. Onde respiro este ar fétido e poluído. Mas não há nada a fazer. Viver é isto mesmo, adaptarmo-nos à realidade e dentro da nossa cabeça criarmos o nosso refúgio, onde temos tudo o que queremos. Abro a porta para ir trabalhar... Esbocejo um sorriso e digo: "Ai coração tolo e sonhador... Se te seguisse era a minha perdição. Mas obrigada por sonhares e partilhares comigo..."
3 comentários:
:)que bonito... o nosso coração a maré que enche e vaza...e nos preenche ou nos arrasta para o vazio... saber mantê-lo em equilíbrio é essencial! Por vezes conseguimos sozinhos...noutras precisámos do coração dos outros. Com o meu poderás sempre contar, tu sabes isso!
Beijos grande amiga!
Epá... sem palavras! lindo ;) simplesmente...
Maravilhoso...
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